Maria Isabel Adami Carvalho Potenza
Vida e Morte
Data: 16/04/2022
Edição: 82
A melhor perspectiva da morte está em Cristo, porque é n’Ele que encontramos a Ressurreição. Como Homem, deixou Ele envolver-se pela solidão da morte. O Corpo de Deus baixou ao túmulo, triturado e arrasado pelas agruras da Paixão. Assim como acontece a todos os homens. Porque, em verdade, todos seguem a mesma linha: nascem, mergulham (ainda que o ignorem) no mistério da sua paixão e morrem. Nem viverá o homem eternamente se primeiro não passar pelo vale sombrio da morte. Assim como Cristo. Nascemos para a vida, não para a morte, mas depois que o pecado nos cingiu, nascemos em direção à morte; é por isso que pertencem a ela todos os dias já vividos. “Como ovelhas, somos todos os dias levados ao matadouro”. Não é senão uma grande verdade que vivendo, cada dia morremos. É, porém, confortador crer que, morrendo, cada dia a morte, de novo, aproxima-nos da vida. Razão teve Rilke, o poeta, em dizer: “Vida e morte, duas coisas tão misturadas como os fios de um tapete”.
Assim, vivendo, morremos. E morrendo, vivemos. A Igreja sempre disse a palavra: adormecer. Para Ela — e para todos aqueles que estão à sua luz — a morte é simplesmente um sono. Nós é que, erradamente, dizemos “sono eterno”. Não há sono eterno. Quem está adormecido, mais cedo ou mais tarde, deverá acordar.
É difícil à nossa sensibilidade aceitar o sono dormido no seio escuro e frio da terra. A singela semente é que testemunha, cotidianamente, os esplendores da vida nova: morre no escondimento das trevas do chão para, em pouco, repontar germinada em brotos, pendões, flores e frutos. Nem viverá o homem eternamente se primeiro não passar pelo vale sombrio da morte, para ressurgir como a semente em vida nova. Como Cristo.
“Eu sou a Ressurreição e a Vida. Todo aquele que crer em Mim, ainda que esteja morto, viverá”. Ele é a primícia dos que dormem. “Se Cristo não ressuscitasse, vã seria a nossa fé”, exclama S. Paulo. Por isso é que a melhor perspectiva da morte está em Cristo. Reavivemos nosso espírito de fé para aceitarmos, um dia, tranquilamente o mistério da morte e, sem medo, adormecer no Senhor. Até que a voz divina recomponha nossos ossos no ritmo da Ressurreição Final, quando o verbo da Alegria brotará de todos os lábios em louvor universal: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos Exércitos. Céus e terra cheios de sua glória”.