Maria Isabel Adami Carvalho Potenza
Fraternidade
Data: 16/06/2022
Edição: 83
Fala-se muito em fraternidade, que é a caridade com outro nome. Muitos, porém, conceituam erradamente a virtude, que é a maior de todas. O mandamento máximo é o amor de Deus e o amor do próximo. Quem ama a Deus ama o próximo. Diz S. João que é mentiroso aquele que diz amar a Deus, mas não ama a seu irmão.
A caridade tem dimensões vastíssimas, revela-se de mil maneiras, embora seja simplesmente amor. Cristo foi o que mais amou os homens. “Eu sou como que serve”, disse Ele.
A expressão perfeita da caridade cristã é, pois, servir. Peca todo aquele que se fecha no egoismo, vivendo o axioma pagão “cada um para si”.
O lema do cristão é o “Tudo a todos”, como quer S. Paulo. Nós não podemos dar tudo que temos aos pobres, mas “se não tivermos caridade de nada nos aproveitará” aquilo que oferecermos, ensina o apóstolo.
Muitos acham que basta jogar uma esmola na mão de pobre, ou contribuir friamente para uma instituição social. Enxergam a fraternidade apenas pelo prisma da esmola. Mas há esmola que atravessa como espada o coração do pobre e fere mais que todas as chagas. É a esmola sem amor.
A caridade é uma salvação. É a continuação do amor de Cristo. É a expressão da bondade em várias direções. Por isso é que até um sorriso pode ser caridade e uma sincera ajuda pode ser amor.
A caridade é interior. Pode alguém dar tudo que possui e não ter caridade, diz S. Paulo, pois a filantropia também dá e permanece longe do amor genuino. A caridade é ânsia pelas necessidades do próximo. É assim uma espécie de amargura pelas aflições dos indigentes.
É a inquietação pela sorte das criancinhas abandonadas ou pelas famílias que se amontoam em barracos vacilantes de tábuas e latas.
Daí nasce a chama do amor; mas a caridade não é estática. “Eu quero”, diz sempre o Filho de Deus diante da indigência que suplica. E dava o alimento, o vinho, pensava as feridas, perdoava os pecados, confortava os corações.
Essa é a caridade, que nasce do coração de Cristo para refulgir no coração daqueles que O amam e desejam seguir seus exemplos.
Não é cristão quem não sabe ungir de amor o gesto de dar, de ajudar, de confortar. É simplesmente um címbalo que tine.
A fraternidade não se resume numa oferta depositada em envelope para uma destinação assistencial. Ela é essencialmente a cotidiana disponibilidade para o bem. Fraternidade é a mão que se dá sem olhar a quem. É a palavra que se diz com ternura e bondade. É a ajuda que se presta vendo em cada irmão a pessoa de Cristo.
Convém lembrar que, na verdade, somos todos necessitados. Quem se basta a si próprio?
O círculo da fraternidade não é dos ricos sobre os pobres. Os ricos, às vezes, são os mais terrivelmente necessitados. A fraternidade abrange, pois, a todos os homens. Ninguém fica de fora. Somos todos indigentes. Indigentes pedintes. É por isso que, cedo ou tarde, de todos os corações sobe o clamor ansioso. “Senhor, tende piedade de nós”.