Maria Isabel Adami Carvalho Potenza
Hora de Trevas
Data: 16/04/2023
Edição: 88
As luzes e as trevas definem a escolha de cada um. Não foram muitos que prestaram atenção ao que Ele dizia: “Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue não anda em trevas”. A grande maioria dos homens não quis receber sua iluminação. As medidas da Graça e da Verdade. Sabiam que o Senhor exigia, em troca, que se transformassem também em outras tantas lâmpadas vivas, para iluminar profundamente os caminhos do mundo. Nem todos querem esse compromisso. Amarram no lenço da infidelidade os talentos divinos. E se escondem sob o alqueire. Afundam-se no erro, voltando as costas ao Rei da Luz e, zombeteiramente, dão-se os braços ao rei das trevas e senhor da perdição.
Os homens estão cegos, cegos... “Se teus olhos forem maus, todo o teu corpo será tenebroso. Se, pois, a luz que em ti existe for trevas, quão grandes serão essas trevas”, disse Jesus na montanha. Elas são sempre o sinal da maldade. Trevas hoje envolvem a Igreja. Trevas como aquelas da Sexta-Hora, quando o Filho de Deus consumava sua Paixão para aclarar as veredas do homem. No candelabro universal da Igreja, ter-se-á extinguido a medida de azeite? Ou ter-se-á ausentado o Senhor, fechando sobre a Esposa mística a porta do iluminado banquete? Não. Ele não se ausentou. Nem se extinguiu a medida de Sua Luz. Apenas a Igreja consuma também, no tempo e no espaço, sua hora de Paixão, sua agonia rodeada de trevas, seu sacrifício de lágrimas e sangue.
A Igreja está pregada na Cruz. A parte do Filho de Deus ficou terminada, mas à Esposa resta cumprir o que lhe falta. Então, Ela continua nos caminhos do mundo, a Paixão de Cristo. Chagada. Conspurcada. Vilipendiada. Rasgam-Lhe a túnica e, sobre Ela, barulhentos, discutidores, ambiciosos, lançam sortes. Não foi o sopro d’Ele que extinguiu as luzes de qualquer consolação, nem as alegrias da paz prometida. Foi a vilania de muitos filhos traidores. Aqueles de quem o Senhor já dizia: “Chamados, mas não escolhidos”. Foi a irreverência dos eleitos em revolta. Foi a desolação da infidelidade. Foi a audácia dos incrédulos.
A Igreja está em trevas, pregada na Cruz universal de sua prolongada e triste Sexta-Feira Santa. Tripudiam sobre o tesouro da doutrina. Maculam de heresias as cristalinas sete fontes pelo Redentor abertas para sobre nós jorrar a Sua Graça. Inovam, inventam, desfiguram a imaculada face da Igreja.
Só que o Senhor não dorme. Para Ele, não há borrascas, nem barcas soçobrantes. Ele mostrará, de um momento para outro, Sua Divina Face. Salvação de muitos. Perdição de muitos. Como um raio, Ele passará de um ponto a outro e sua justiça colocará tudo no lugar certo. Pena é que muitos não tenham compreendido que Ele é a Luz do mundo. Que Ele é a Verdade. Que Ele é caminho e vida. Não são as trevas que destroem a luz, mas a luz que espanca as trevas. Ele encherá de clarões a Sua Igreja, de repente, de um momento para outro. Quando menos se esperar. Vai juntar as pérolas lançadas aos porcos e reconstituir, uma a uma, as joias reais com que adornará a Esposa sem mácula, sem mancha, nem ruga, para o grande dia eterno.
É como se, nesta vigília da Paixão, eu visse com os olhos da carne, a alvorada colorida e mansa, do momento triunfal, quando Ele voltar para nos envolver a todos nas luminosidades de sua Eterna Presença e encher de glórias intocáveis a Igreja, que deixou aos cuidados de Pedro. Sofrida e purificada, ela emergirá da grande tribulação, resplandecente e definitiva. Nos caminhos do mundo, no tempo e no espaço, se diluirão para sempre, no zero do nada, as trevas de toda maldade.